Recentemente participei de um curso de fabricação de cerveja artesanal com a companhia do meu brother Diego do UbarCast. Ele já fez alguns vídeos comigo, então pra quem segue o canal do Barbados não é novidade.
O curso foi realizado no Rio de Janeiro no Lapa Café. Pretendo fazer uma série de posts para mostrar como foi o curso, porém antes disso nos batemos um papo bem bacana com o Pedro Ribeiro, que ministrou o curso juntamente com sua esposa Kate.
Da esd. - Eu, Kate, Pedro e Diego
Barbados - Como foi a descoberta do universo das cervejas especiais?
Pedro - Em 1994 uma prima minha morava nos EUA e prestes a se casar ela trouxe o noivo para conhecer a família aqui no Brasil. Quando eles chegaram, eu o convidei para visitar o Oktoberfest (festival da cerveja aqui no Rio). Era um evento grande e após rodarmos por vários estandes e experimentarmos diversas comidas diferentes, o Jim (noivo da minha prima) chega pra mim e fala: "Pedro? Tá muito bacana, comida muito legal, mas só tem dois estilos de cerveja aqui nesse FESTIVAL DA CERVEJA?"
Eu não entendi a pergunta dele, naquela época eu não tinha como entender a pergunta dele, achei até que ele tava tirando uma onda, mas de todo o modo eu respondi: "Olha Jim, você tem aqui o chopp claro e o chopp escuro, o que mais você quer né. Do que você está sentindo falta?"
Enfim, dois anos depois eu estava nos EUA e me deparei com uma realidade totalmente diferente. Nós saíamos para beber em alguns brewpubs e em cada um tinha no mínimo quatro estilos diferentes de cerveja e na maioria dos casos elas eram produzidas no próprio brewpub. Ai que eu me dei conta do vexame que foi naquela época tê-lo levado para o festival no Rio. Mas foi uma experiência maravilhosa, foi daí que surgiu toda essa ideia de fomentar a cultura cervejeira no Brasil.
Barbados - Como era o mercado cervejeiro no Brasil naquela época? Onde e como você foi buscar mais conhecimento sobre o assunto?
Pedro - O mercado nacional se restringia basicamente a cervejas claras do tipo "Pilsen" e em alguns lugares era possível encontrar uma versão escura dessa mesma Lager. Pra falar a verdade, naquela época Lager ou Ale não queria dizer nada para nós. As cervejas encontradas eram Brahma, Antártica, Skol, uma Bohemia ou a Original, que eram consideradas especiais. Uma vez ou outra uma Cerpa do Pará, Xingu, Caracú que eram cervejas escuras e até mesmo a Malzbier da Brahma.
Depois que voltei dos EUA que eu comecei a pesquisar e me aprofundar no assunto. Na época tínhamos acesso somente a literatura dos EUA e por meio de blogs. Começamos a conversar com cervejeiros caseiros da Europa, dos EUA e até mesmo na Argentina onde a cervejaria caseira já estava mais difundida. Então começamos a produzir em casa com alguns amigos. As primeiras não deram muito certo mas não desistimos, apesar de não haver nada em termos de lojas com insumos e equipamentos, cursos.
Depois que voltei dos EUA que eu comecei a pesquisar e me aprofundar no assunto. Na época tínhamos acesso somente a literatura dos EUA e por meio de blogs. Começamos a conversar com cervejeiros caseiros da Europa, dos EUA e até mesmo na Argentina onde a cervejaria caseira já estava mais difundida. Então começamos a produzir em casa com alguns amigos. As primeiras não deram muito certo mas não desistimos, apesar de não haver nada em termos de lojas com insumos e equipamentos, cursos.
Cursos...na época não tinham muitas opções. Tinha um em Minas que a gente soube, um amigo meu chegou a fazer, tinha outro em São Paulo. Era difícil encontrar alguém que produzisse e nós fomos fazendo, na garra, na coragem e depois de algum tempo percebemos que estávamos produzindo com qualidade. Foi nesse momento que decidimos compartilhar o conhecimento e começamos a ministrar os cursos.
Só complementando a primeira e a segunda perguntas, hoje você tem lojas físicas e online de insumos, equipamentos, muitas pessoas produzindo, uma quantidade cada vez maior de brewpubs. Literatura vasta, você vai às livrarias e tem de tudo. Isso tudo sem falar nos eventos e festivais. No Rio tem eventos mensalmente uma ou duas vezes por mês. Muitas vezes em outras cidades, como em Blumenau no começo do mês, ou seja, o calendário é cheio e o que não falta são opções.
Barbados - Há quanto tempo você está ministrando os cursos?
Pedro - Já são onze anos desde o primeiro curso. Tenho quase certeza que foi o primeiro curso no Rio, talvez um dos primeiros no Brasil. De lá pra cá já foram quase 80 cursos, praticamente duas mil pessoas se formaram. Hoje, alguns ex-alunos tem sua própria cervejaria, bar, pub, outros continuam como hobbie ou trabalham no setor de alguma outra maneira. E isso é muito gratificante!
Barbados - Você foi um dos fundadores da aCerva Carioca (antiga Confraria do Marques). Conte-nos como foi esse processo de formação da primeira aCerva nacional. Quais foram as dificuldades e as conquista de lá pra cá?
Pedro - Em relação à aCerva Carioca foi um processo bem bacana. Na época, devido a dificuldade de encontrar insumos e pessoas que produzissem cerveja, mesmo com a internet era algo complicado, então começamos a fazer reuniões com nossos ex-alunos, integrantes da Confraria juntamente com outros cervejeiros que na época estavam começando a produzir. Dessas reuniões surgiu a ideia de criar um CNPJ, a princípio com a intenção de comprar insumos por um preço melhor e em quantidades maiores, mas logo percebemos que a missão era outra e a partir daí começamos a promover concursos e encontros cervejeiros.
Com relação a dificuldades, acho que foi um processo muito natural. Inicialmente por se tratar de um grupo pequeno, fica sempre mais difícil para realizar as coisas. Depois as adesões foram surgindo e hoje tem um grupo bastante consolidado, não só na aCerva Carioca mas em outras cidades também. Hoje é possível ver um cenário muito maior do que no início; em festivais, todos os lugares você vê que a aCerva está presente e continua com seus próprios eventos, sejam eles regionais ou nacionais.
Barbados - Porque ministrar cursos e não abrir a própria cervejaria?
A princípio nossa proposta, nossa “missão”, era de fomentar a cultura cervejeira. Não pensávamos na possibilidade de ter uma cervejaria própria. Naquela época era algo intangível e o nosso desejo era realmente disseminar a cultura cervejeira e mostrar para as pessoas que era possível fazer cerveja em casa e esse objetivo foi alcançado e sempre tivemos muito prazer em fazer isso.
A ideia de ter uma cervejaria começou a ganhar corpo de um tempo pra cá, especialmente depois de desenvolver rótulos para outras empresas, observar o mercado e ver a crescente demanda pelas cervejas especiais. Estamos com a expectativa de lançar um ou dois rótulos ainda esse ano, provavelmente no segundo semestre. Esperamos muito em breve poder lançar essa novidade e vocês vão saber em primeira mão.
Barbados - Assim como para ser um motorista habilidoso você não necessita de habilitação, para ser um bom mestre cervejeiro, você acha que é necessário ter uma formação técnica ou acadêmica?
Pedro - Em minha opinião não é necessário. Há algum tempo atrás era comum ver mestres cervejeiros de grandes indústrias que não tinham um conhecimento vasto sobre as cervejas e seus inúmeros estilos. Tinham muito conhecimento industrial, eram técnicos que sabiam produzir uma "Pilsen", mas na hora de pensar em inovações ficavam sem saber o que fazer. Hoje é muito comum e temos exemplos por ai de mestres cervejeiros que trabalham em cervejarias conhecidas que vieram da panela. Não começaram tendo uma formação técnica ou acadêmica, até porque os cervejeiros da panela têm uma forma de pensar e produzir totalmente fora da caixa, o que contribui muito quando chegam ao meio industrial. São esses cervejeiros que estão ajudando a indústria a sair do lugar comum. Temos bons exemplos por ai, como o Gabriel de Martino que durante muito tempo foi o mestre cervejeiro da Therezópolis e hoje está nos EUA se aperfeiçoando. Existem vários outros casos, como de microcervejarias que começaram a partir da elaboração de pessoas que produziam em casa, cresceram, hoje já venderam sua cervejaria para a Ambev e nem todos eles tinham uma formação específica de mestre cervejeiro.
Como estamos falando de um cenário muito dinâmico, isso vai começar a mudar. A procura por cursos técnicos e acadêmicos vai aumentar, os cursos vão se aperfeiçoar para que possam oferecer ao mercado de trabalho um profissional mais completo e que não se limite apenas em operar máquinas e executar receitas, mas reitero o que disse antes: "não há realmente essa necessidade de ter uma formação para ser um excelente mestre cervejeiro".
Barbados – Em que aspectos uma formação de mestre cervejeiro pode ser interessante?
Pedro - Uma formação acadêmica vem a calhar quando você vai de fato começar a trabalhar, seja porque entrou para a indústria ou porque vai abrir sua própria cervejaria, no sentido de operação de equipamentos e processos que é algo totalmente diferente de elaboração e criação de receitas. Tem a ver com processo industrial e administração do negócio, mas não é algo que influencie na habilidade do cervejeiro.
Barbados - Você disse que tem viajado o Brasil ministrando os cursos. Como tem sido essa experiência?
Pedro - Temos cursos agendados para São Paulo, estamos fazendo um contato em Minas, em Brasília já estamos indo para o terceiro curso e é um lugar onde estamos criando um público cativo. Realmente é uma oportunidade única ir a outras cidades, conhecer outros lugares e pessoas. Em cada lugar o curso é diferente, a dinâmica é outra, as pessoas são diferentes e isso é enriquecedor. Aliás, uma das razões para eu dar os cursos hoje, além daquela inicial de disseminar a cultura cervejeira, esse contato com um público tão variado tem sempre uma troca muito bacana. Aprendo muito com relação a vários assuntos, até mesmo na maneira de ensinar, como transmitir o conhecimento, a melhor maneira de se fazer algo, considerar e respeitar as pessoas. Isso sempre trás muito mais do que apenas um retorno financeiro ou algo do tipo, eu acho que dá mais sentido na vida.
Barbados - Se algum leitor do blog se interessar em contratar você para um curso. Como ele pode entrar em contato?
Pedro - Se algum leitor tiver interesse em contratar o curso, teremos o maior prazer em atender. Basta visitar o site Curso de Cerveja Artesanal, lá tem muitas informações sobre como o curso acontece.
Pode entrar em contato pelos seguintes telefones:
Celular / Whatsapp - (21) 988382498
Fixo - (21) 3079-0366
Ou através do email: curso@cursodecervejaartesanal.com.br
Celular / Whatsapp - (21) 988382498
Fixo - (21) 3079-0366
Ou através do email: curso@cursodecervejaartesanal.com.br
Em breve teremos novidades, como curso online que é algo muito interessante, principalmente para pessoas que moram longe ou que por alguma razão não possam vir ao Rio ou levar o curso até sua cidade.
Desde já gostaria de deixar meu agradecimento ao Pedro, não só pela entrevista mas pelo curso e toda troca de ideias que tivemos. Conhecimento nunca é demais, e é sempre bom entrar em contato com especialistas no assunto.
Muito foda a entrevista! E a história do Pedro é muito massa rsrsrs Parabéns Vitor!!!
ResponderExcluirMuito legal a entrevista, só aumenta minha vontade de produzir minha própria cerveja.
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