segunda-feira, 30 de maio de 2016

ENTREVISTA #08 - HECHO A MANO CUSTOM

Hoje tive a oportunidade de trocar uma ideia com o Pedrão do Hecho a Mano sobre as motocas dele e entender um pouco mais sobre o mercado das Harleys antigas. Para quem curte essas velhinhas o blog dele é parada obrigatória, pois tem muito conteúdo relacionado a mecânica e como ele faz as manutenções, mas chega de enrolação e vamos ver o que ele falou pra gente.

Barbados - Você tem duas shovels e uma dyna. Como faz para manter as três motos rodando, já que moto boa é moto que anda?

Pedrão - São duas Harleys "panshovel" (shovelhead generator), anos 1966 e 1969, e uma dyna 2008, além, de uma farm truck Chevrolet 1950 "boca de sapo". Juntando tudo mais minha carcaça dá uns 224 anos de história.

Manter essas motos rodando é mole, mas com respeito à idade. O coração dessas motos tem centenas de milhares de quilômetros rodados, são refrigerados a ar e submetidos a vida inteira ao calor de 40 graus carioca. São motores montados diretamente no chassis, sem radiador, coxins ou balanceiros para reduzir vibrações, como as novinhas. O sistema de ignição usa platinado e condensador, não possui nenhum sensor, a carburação e o avanço de ignição são afinados "no ouvido", e os freios a tambor plenamente adequados à época em que o trânsito não exigia muito.

Depois de 50 anos rodando, vê-se como as Harleys de verdade eram robustas e a manutenção bastante simples.

Barbados - As reformas nas shovels, você fez tudo sozinho na garagem de casa? Teve alguma coisa que levou em alguma oficina especializada?

Pedrão - Peguei essas motos no bagaço. Suspensões estouradas, rolamentos de rodas e coluna de direção, tanque enferrujado, motor fumando, tuchos batendo, vazamento de óleo do câmbio, comando de válvulas erodido, carrinhos frouxos, guias de válvula quebrados, primárias com folga, dínamos estragados, relação sem regulagem, sem freios, etc.

Desmontei as motos e fui arrumando, a maior parte na companhia de uma cerva, na garagem de casa. Como tive que refazer a elétrica de uma delas, contei com a ajuda dos mestres André Fonseca e Mário e, na retífica dos motores/câmbio, o mestre Helmut foi meu guia.


Barbados -  Já fez alguma reforma para terceiros ou o só faz como hobbie mesmo?

Pedrão - Não sou mecânico profissional e faço minhas coisas só para mim. Cresci vendo meu pai reformar na garagem de casa um Mustang hardtop 69 e um Mustang Guia 75, entre carburadores e ferramentas. Na faculdade de engenharia fiz uma cadeira de mecânica e outra de máquinas, onde adquiri algum conhecimento.

Barbados - Você faz ou já fez viagens mais longas nas velhinhas, acima de 500km por exemplo? Ou deixa elas só pra dar um rolê mesmo?

Pedrão - Nunca fiz viagens longas com elas. Mas tenho planos.

Barbados - Recentemente, vi um documentário e as motos apresentaram vários problemas durante a viagem. Você já ficou quebrado no meio da estrada?

Pedrão - Com as shovel não. Um camarada que tem uma shovel 74, o Felipe Cabral, fez uma viagem de 4 mil quilômetros com ela e acho que só veio ter um probleminha chegando ao Rio. Essas motos são bem confiáveis.

Barbados - Nesse mesmo doc. um dos caras comenta que quando comprou sua ironhead 1977, ele não tinha muita grana e ela foi o que deu pra comprar. Aqui a situação é bem diferente. Se por um lado por serem motos importadas e em pouca quantidade (o que justifica um preço mais alto) por outro há uma "cultura" de que HD tem que ser cara e se for antiga então tu tem que vender um rim pra comprar. O que você pode falar sobre essa questão, de oferta x procura pelas antigas?

Pedrão - As antigas são cada vez mais raras, daí é questão de oferta x demanda mesmo. Mas tem outro lance: são Harleys de verdade, sem plásticos, tampinhas etc. Talvez isso as valorize tanto. Hoje vi uma Panhead customizada pela Spades por R$ 200 mil. Três ou quatro anos atrás, uma Panhead abandonada por décadas sem rodar, com motor travado, foi leiloada pelo Lord of Motors por R$19.000,00. Não fui eu quem dei o lance ganhador e sei que ela está do mesmo jeito até hoje, mas pagaria os 19 para tê-la.

Barbados - E essa história dos nomes? É alguma homenagem?

Pedrão - Dercy foi o nome dado por um amigo. O apelido pegou na turma. Daí achei melhor batizar a outra de Aracy de Almeida, a Dama do Encantado. Achei os nomes bem adequados às velhotas.

Dercy

Aracy

Santa Esmeralda

Pedrão, muito obrigado pela atenção e parabéns pelo trabalho de restauração e customização. Apesar de leigo quando o assunto são as antigas e as vezes questionar seus valores, deu para entender um pouco mais sobre esse meio depois de ver você falando. Tem que ter muita paixão por elas. E essa paixão não tem preço. Mais uma vez parabéns e nos vemos na estrada!

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